quinta-feira, julho 31, 2008

Amália

Ao almoço

falo com o meu Pai sobre vinhos. Tintos e brancos, verdes e maduros.
Alentejanos, do Douro, Dão, do Minho.
Falamos do meu favorito, o Verde.
Depois ele explica-me o que se faz para a videira ser mais forte e eu confesso que me perco no meio do enxerto americano, as castas, os sulfatos e coisas com nomes que agora não me lembro.
De repente fala do Míldio e de como a videira americana é resistente ao... Míldio.
E de como é uma doença bastante difícil de controlar.
O quê? O Míldio!
E eu contenho-me e fumo mais um bocadinho e bebo café e concentro-me no que ele diz para não me partir a rir.
Porque se ele diz Míldio mais uma vez, eu começo a rir e só páro quando conseguir dizer
"Oh Mãe, tu às vezes parece que és estúpida!"
Mais: 1, 2 e 3.

quarta-feira, julho 30, 2008

Havemos de ir a Viana

Se o meu sangue não me engana
E o céu o mar prolongava
Ai, que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
Misto de ventura, saudade, ternura e talvez de amor
Em menos de 10 anos (ainda ia à praia do Paçô aos 18?), muita coisa mudou.
O areal de Carreço quase desapareceu, o Cabedelo está irreconhecível. Aquecimento global, sim.
Na nossa praia favorita de tantos Verões já não há quem apanhe o sargaço e por isso entrar na água é uma aventura de luta pela vida com laivos de ficção-científica.
Consegui, ainda assim. Soube tão bem.
E ficar na areia até às 19h30, conversa animada com a prima-irmã, gelados depois do banho, café ao chegar à praia, café em casa com a Titi, almoço delicioso com as duas e sentir que ainda é tudo igual, tenho 8, 10 anos, 13, 14, 15 e aquela casa é o maior refúgio da minha vida.
E não, não somos mulheres de relações para toda a vida.
Como diria o meu querido Mário, vamos almoçando.

terça-feira, julho 29, 2008

O meu País

No meu país as igrejas são caiadas e têm torres altas e muitas luzes a delineá-las como no Minho.
Por dentro têm tectos pintados de cores garridas e as procissões são sob o sol que escalda os andores e as pétalas de flores macias que apanhamos no jardim.
As festas são um misto de comida e salada de tomate e família junta com a excitação típica da música e de estar com os amigos.
As praias do meu país têm areais lindos e dunas fustigadas do vento, onde nos escondemos para sermos espiões ou para taparmos o topless delas, e o mar é bravo e frio.
No meu país leva-se melancia para comer de manhã, pão com manteiga para o lanche na praia, às vezes tulicreme.
No meu país ainda há Fizz de limão, verde por fora e branco de leite por dentro, às vezes sumol de ananás quando o que se tem é sede.
No Inverno há sempre um lume aceso nas cozinhas do meu país e lancham-se torradas com leite acabado de ferver, tira a nata, provam-se as primeiras alheiras e ah rapazes, que frio hace na nossa tierra.
No meu país os campos estão divididos com muros de pedras empilhadas e há hortas ao pé de milheirais, vinhas com as melhores figueiras, pomares a perder de vista, pastos para as vacas e terras de batatas para muitas horas de trabalho.
No meu país há tantas amoras silvestres e de amoreiras que me perco e pertencem-me todas como nada nem ninguém.
No meu país há castanhas e o Outono existe, com magustos e vontade de ver chegar o frio.
No meu país cantam-se as Janeiras às portas das casas e as rabanadas são mesmo só no Natal.
No meu país há Viana e o fogo e as pipocas na varanda e o café do Zé Natário e a Praça da República e o manequim à janela e a feira do livro ao pé do rio.
Há o planalto e as vinhas e a terra quente e seca e solta e as hortas frescas e a fruta roubada das árvores e as ameixas que parecem de mel.
E há todas as praias lindas, grandes e pequenas, e bicicletas para andar nas férias e um Verão que não acaba e é meu.

segunda-feira, julho 28, 2008

Charlotte Gainsbourg

Revival

The Cure, Just Like Heaven, a tocar no carro enquanto percorro Costa Cabral.
As memórias são tão fortes que quase consigo ver-nos, a mim e à S. na paragem do autocarro, no café, na rua toda, a falar, a rir.
Metade da nossa vida e só mudou a rua.

quarta-feira, julho 23, 2008

Aos 28

festejei como nunca.
Comecei na terça, ainda antes da data, noite da famosa piada sobre morrer aos 27 e no sábado ainda duravam os festejos.
Resumidamente, muitos festejos e muita música.
Marés Vivas com grandes concertos de Peter Murphy, Da Weasel e Prodigy, grandes, grandes Prodigy.
Pelo meio, visitas de Lisboa (já eras menos chato, já), conversas infindáveis com a amiga das conversas infindáveis (ou conversas de cozinha, aliás) e muita vida social.
Em Dezembro tinha a impressão contrária, mas agora acho que os 28 vão ser bons, muito bons.

Ontem


Kings of Convenience - I'd rather dance with you

Fantásticos, divertidos, encantadores, adoráveis.
Fiquei a gostar ainda mais deles.
Deixo ainda um obrigada sentido a quem não foi e me permitiu usar o bilhete grátis. ;)

Dizem-me

"olha, estou sem paciência
quero ser cortejada
e q andem atrás de mim
e que queiram ir ao cinema e jantar fora e que me levem a ver coisas e sítios q eu nunca vi
estou farta de andar atrás deles
e de me contentar com as migalhas q eles se lembram de nos dar
e até que apareça alguém que me mereça, morri para os homens"

Estarei no enterro dela.

quinta-feira, julho 17, 2008

Que saudades do liceu

e da paixão do 8º ano
e dos Cure
e da Revolution dos Beatles
e da vespinha cor-de-rosa dele
e das 7up's que bebíamos alapadas nas mesas do polivalente
mas principalmente
dos Cure

A minha sorte

é às quartas não haver operações stop.
Acordei cedo no meu dia de anos para ir ao Banco Alimentar.
Ao menos não ia sozinha, o que foi óptimo porque nos despachámos num instante.
A maior dificuldade do meu dia foi conciliar jantar de aniversário em casa com jantar de aniversário no Food, mas até isso se resolveu.
Não fiz nenhum dos meus dois bolos. Eram os dois óptimos!
À tarde estive na praia, soneca de barriga para cima, soneca de barriga para baixo. Que vidaço!
Um banho com água menos gelada que a de Carcavelos no domingo, as algas todas a boiar à minha volta.
Praia sozinha é para repetir.
Voltei salgada e feliz, jantei com a família. Bolo de laranja e noz com um 28 redondinho para apagar.
A meio, fui avisada pela filha/cozinheira-chefe que o meu bolo seria comido às 21h. Fui.
Quando entrei, tive pena de não ter jantado com eles. Estava lá o poço-fundo, puseram as mesas juntas e parecia mesmo um jantar de anos num qualquer restaurante.
Cantaram-me os parabéns assim que entrei (fico sempre sem saber o que fazer: canto também? sorrio e espero que acabem? bato palmas com eles?) e só depois trouxeram o bolo: bolachas mergulhadas em cevada com leite condensado, natas e ananás aos cubinhos por cima.
Cantaram-me os parabéns outra vez, pela quarta ou quinta vez nesse dia.
Pedi um desejo e mordi a vela.
Deram-me a escolher conduzir a carrinha, mas não me apeteceu.
Pouco havia para fazer, éramos tantos.
O Sr. Fernando estava a jogar dominó com um amigo, voltámos atrás para levar mais um prato.
Fui apresentar o Sr. Manuel a uma novata e uma que voltou agora depois de uns meses, estava sozinho mas o segundo prato não se desperdiçou: demos ao Sr. António.
Eu, por causa das coisas e porque já sei do que a casa gasta, cheguei-me à cabeceira dos "aposentos" do Sr. Manuel e falei com ele sempre a olhá-lo nos olhos. Ainda o vi levantar as calças, mesmo antes de se queixar delas, mas felizmente o meu ângulo de visão não me permitiu ver mais nada do Sr. Manuel.
Não posso dizer o mesmo das minhas colegas de viagem.
Fomos ao Aleixo, cujas torres vão abaixo em breve, segundo as notícias, já só havia iogurtes líquidos.
Ouvi a história de um ex-militar, ex porque esteve preso sete anos, esteve preso porque se meteu por caminhos duvidosos, tráfico e consumo. Mostrou-nos as fotografias da filha de 9 anos, os genes todos à mostra.
Depois regressámos pela marginal (o Porto é tão bonito), e quando tudo estava lavado, arrumado e limpo, Piolho.
Um brinde aos meus anos, um isqueiro suplente, duas bebidas oferecidas. E o fumo, o fumo.
Podia dizer que cheguei a casa muito Zen, mas acho que seria the understatement of the year.

quarta-feira, julho 16, 2008

Sobrevivi

e estou tão feliz por ser o meu dia de anos que não sei o que fazer a este sorriso parvo.
Vou morená-lo para a praia!
(Dêem-me os Parabéns, vá.)

Morrer aos 27

Depois de duas horas a ouvir que já não ia morrer como os grandes, eis que a filha se lembra que dado que não era meia-noite, ainda me podia dar uma coisinha má e lá ia desta para melhor.
Para a sala do Kurt Cobain, provavelmente.
Confesso que cheguei a recear pela minha vida, mas ela assegurou-me que seria incapaz de me matar. Física e psicologicamente. Aliás, ela não é violenta.
Depois do jantar, fumo no terraço.
Quando faltavam 10min para a meia-noite, e porque a minha prenda não foi só um vestido giríssimo, disse-lhe para se calar com aquilo que ainda me caía um piano em cima. Como nos desenhos animados.
A partir daí ela começou a imaginar maneiras de eu morrer nos 10min seguintes ali no terraço.
A saber:
1. terramoto que me engolia (esta fui eu)
2. bala perdida (curva, como no filme da Angelina - e depois ela ficava como a Angelina, etc, etc)
3. o meu irmão fartava-se de nos ouvir às gargalhadas, abria a janela para nos mandar calar, batia-me com a portada, eu caía para trás e partia o pescoço (a mais elaborada, note-se).
E outras variações do mesmo tema.
Primeiro foi atacada por peso na consciência, ai, se tu morresses agora eu suicidava-me, ficava traumatizada. Rapidamente passou ao "olha, não te queres suicidar? era mais fácil".
Quando finalmente chegou a meia-noite, logo a seguir aos Parabéns, "Toma Kurt, já não ficas com ela!"
E para mim: "não te preocupes, ficas com o Manoel de Oliveira".
Melhor desejo de felicidades que se pode ter!

terça-feira, julho 15, 2008

Hino

Na Bica, às 10h da manhã de Domingo



A perspectiva? Deitada no corrimão da calçada com o telefone virado para trás, como se o céu fosse o chão - a minha fantasia favorita.
A hora? Não perguntem, foi uma noite dura.
Gosto tanto de Lisboa...

segunda-feira, julho 14, 2008

A Superbock dá-me os Parabéns

quatro dias antes da data.
"parabéns a você
onde quer que estejas
muitas felicidades
e grades de cerveja"
Tá bem.

quinta-feira, julho 10, 2008

Só porque gosto de coincidências

No dia 9 de Julho cumpri a 9ª semana de Food for Life.
Bonito.

Ainda ainda sobre ontem

O concerto foi no Armazém do Chá, aquele que visitei há umas semanas e onde bati com a perna numa mesa baixa que me deixou marca até hoje, juro que ainda se nota, e era exactamente disso que eu ia a falar quando entrámos.
Subimos ao primeiro andar e eu não vi as tais mesas em lado nenhum, pensei, Olha, tiraram o raio das mesas, puseram outras. Mas espera, eles abriram há umas semanas, não devem ter mudado já a mobília, que estranho...
E enquanto penso isto, olho para o lado e vejo os sofás.
Pretos, com armação metálica branca.
Bati num sofá, não numa mesa.
Caso para dizer: não vem mais vinho para esta mesa.

Ontem ainda

e depois de piolharmos,
fomos a um concerto da melhor música de festa que há.
Super divertidos, fizeram-nos dançar e saltar e rir e foi o concerto mais interactivo a que já fui.
Depois lembrei-me de uma noção que eu tinha quando era pequena, mas isso fica para outro post.
Nema Problema, aconselho.
E quem dança assim, não precisa de ginásio.

Não ia dizer isto porque depois é mais difícil,

mas como não me consigo conter e falo que me desunho,
digo só que me apetece comer todas as coisas doces do mundo,
deve por isso que se engorda...
Will power! E fruta, muita fruta.

Ontem alterei a rotina

Não conduzi a carrinha - era a vez do outro condutor.
Foi um alívio, de certa forma. Era uma simples passageira.
Além de que assim podia criticar a condução dele e picar-me com quem dizia que ele conduzia melhor. Galinhada geral.
Claro que fui levar o jantar ao Sr. Fernando, como todas as quartas.
Há já umas semanas que deixámos de levar comida ao outro senhor que dorme ao lado da estação, desde que o encontrámos acordado e a resmungar connosco, que nunca comia, que nos fôssemos embora, não, não queria comer, nem a sobremesa!
Não seja por isso, mais fica.
Desta vez fiquei na roupa, a ajudar a nossa feirante profissional, a Maria Ivete.
Nunca mais, aquilo é uma selvajaria! Credo, cruzes, canhoto, que confusão.
No Carregal continuei a tarefa, foi mais calminho. Se calhar isto é como tudo...
Depois fui atrás da cozinheira-chefe e uma ajudante para levar comida aos senhores que dormem num canto da entrada do Hospital de Sto. António. Antes não tivesse ido.
Ah e tal, Sr. Manuel, como está, gosta de arroz doce? Só gosto de mulheres bonitas!
Acorda o companheiro, Olha aqui três mulheres bonitas!
Nós rimo-nos e continuámos a conversar, precisa de alguma coisa, roupa?
Sim, menina, preciso de umas calças.
O Sr. Manuel, que só tem a perna esquerda, nesse momento mostra-nos o estado das calças e de facto aquilo está tudo rasgado, precisa de outras, mas ele continua a levantar as calças, Olhe para isto, e é assim que eu fico a conhecer a realidade do Sr. Manuel: um coto em vez da perna direita e uma pila bem arejadinha ao lado.
Toma lá!
Estou traumatizada até ao fim dos meus dias.
Ou não, que há dois anos fui a tantas praias de naturistas (a nova palavra para o velho nudismo) e vi tanta pilinha de velhinho que isto agora é só mais uma.
Ui, o meu cérebro acabou de fazer uma comparação visual dessas com a de ontem... Desculpem, vou ali vomitar o almoço, já venho.

quarta-feira, julho 09, 2008

Cinema ontem

Angelina Jolie: boa, boa. Como sempre, 'tá nada magra demais.
Plot: fraquinho.
FX: great!
Carros: altamente.
Verosimilhança: zero.
Analogia: ah e tal, um Corvette vermelhinho. Alto carrão. Se desse umas voltas nele e ficasse completamente babada como seria de esperar, também ia ouvir que isto não é the real thing e melhor seria concentrar-me em procurar o carro verdadeiro?
Bullshit. Perdoem a brutalidade. Tretas!

sexta-feira, julho 04, 2008

Ou ainda

os quase 27000Km que o bicho já tem.
Fiel e leal, como um cão.

O meu carro fez um ano

no fim-de-semana.
A Cristina Branco cantou-lhe os parabéns, ela que foi provavelmente a primeira a cantar lá dentro.
Não sei o que é mais inacreditável: o já ter passado um ano, 12 meses, 52 semanas, e por aí fora,
os riscos e arranhões que o carro já tem
ou o lembrar-me ainda muito bem de quando ele estava impecável e imaculado e toda a gente me dizer que só custa o primeiro, depois os riscos tornam-se normais, e eu incrédula.
Seja o que for,
Parabéns!

Ticket to Ride

Ainda não eram 9h da manhã e eu já estava na carrinha a caminho do Banco Alimentar, na quarta-feira passada.
No rádio, Ticket to Ride dos fab four.
Sou eu, que no dia anterior tinha deixado a cidade de quase 8 anos?
Às vezes é preciso deixar as coisas para percebermos o que queremos?
Passaram 8 meses do fim de quase 8 anos. Quando saí, mexi em memórias e emoções arrecadadas há muito tempo, há mais de 8 meses de certeza.
Fez-me bem.
No dia anterior deu-me para os feminilinilinismos e quase não aguentei as lágrimas.
Depois uma amiga das boas levou-me a um concerto de alunos de gaitas-de-fole, jantámos no Bairro e a vida voltou ao normal.
Lições a reter: levar caixotes é essencial, para a próxima vai a carrinha cheia deles.
Pedir pão e cenouras e azeite. Com jeitinho, vai.
Ah, mais uma: welcome.

A IR(e)MÃ mais velha

ou a que nasceu antes
também o diz muito bem.

«...é voltar ao país e ser tratada com a superioridade paternalista que se reserva aos "imigras", mas borrifarmo-nos para isso porque fazemos parte da irmandade mais sobrenaturalmente divertida do planeta & temos férias marcadas num ilhéu que já provou ser capaz de nos receber muito bem. São espetadas da mais tenra carne e fritos de milho até fartar, mergulhos nocturnos na piscina ou no mar (para os mais afoitos), encomendas de resmas de livros na biblioteca da Gulbenkian local, passeios de "bike" e conversas estapafúrdias. É tentar evitar que o progenitor asse só de um lado ("Pai, vira-te!"), discutir acaloradamente qual a piada mais cómica dos Gato Fedorento e pegarmo-nos à batatada pelo uso prolongado do chuveiro, antes de nos "encremarmos" generosamente uns aos outros para amenizar o fogo dos escaldões ("Como te puseste"!).

Razão tinha o Ruy Belo: o Verão é mesmo "a única estação".»

O Ruy Belo é o poeta do meu dia. It figures.

Do Verão

Hoje chove no Porto, mas continua a ser Verão.
Como no ano passado, mas
principalmente,
como o diz (e tão bem)
o meu irmão.

quinta-feira, julho 03, 2008

na fila de trânsito

no semáforo vermelho
o condutor do carro ao lado
usa um folheto dobrado
para atirar do vidro
um passarinho morto
que cai na estrada
o semáforo fica verde
e a fila avança

quarta-feira, julho 02, 2008

Tartaruga

Ontem trouxe a casa às costas.