Não conduzi a carrinha - era a vez do outro condutor.
Foi um alívio, de certa forma. Era uma simples passageira.
Além de que assim podia criticar a condução dele e picar-me com quem dizia que ele conduzia melhor. Galinhada geral.
Claro que fui levar o jantar ao Sr. Fernando, como todas as quartas.
Há já umas semanas que deixámos de levar comida ao outro senhor que dorme ao lado da estação, desde que o encontrámos acordado e a resmungar connosco, que nunca comia, que nos fôssemos embora, não, não queria comer, nem a sobremesa!
Não seja por isso, mais fica.
Desta vez fiquei na roupa, a ajudar a nossa feirante profissional, a Maria Ivete.
Nunca mais, aquilo é uma selvajaria! Credo, cruzes, canhoto, que confusão.
No Carregal continuei a tarefa, foi mais calminho. Se calhar isto é como tudo...
Depois fui atrás da cozinheira-chefe e uma ajudante para levar comida aos senhores que dormem num canto da entrada do Hospital de Sto. António. Antes não tivesse ido.
Ah e tal, Sr. Manuel, como está, gosta de arroz doce? Só gosto de mulheres bonitas!
Acorda o companheiro, Olha aqui três mulheres bonitas!
Nós rimo-nos e continuámos a conversar, precisa de alguma coisa, roupa?
Sim, menina, preciso de umas calças.
O Sr. Manuel, que só tem a perna esquerda, nesse momento mostra-nos o estado das calças e de facto aquilo está tudo rasgado, precisa de outras, mas ele continua a levantar as calças, Olhe para isto, e é assim que eu fico a conhecer a realidade do Sr. Manuel: um coto em vez da perna direita e uma pila bem arejadinha ao lado.
Toma lá!
Estou traumatizada até ao fim dos meus dias.
Ou não, que há dois anos fui a tantas praias de naturistas (a nova palavra para o velho nudismo) e vi tanta pilinha de velhinho que isto agora é só mais uma.
Ui, o meu cérebro acabou de fazer uma comparação visual dessas com a de ontem... Desculpem, vou ali vomitar o almoço, já venho.
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