sexta-feira, outubro 16, 2009

Desconfiança

Sempre desconfiei das pessoas que conseguem manter as emoções escondidas. Carinha a rir quando tudo vai mal ou poker face por princípio. You shouldn't wear you heart on a sleeve, mas as pessoas que não se deixam perturbar pelos problemas, à superfície visível, merecem-me tanta confiança como os bichos que sangram cinco dias e não morrem.
Muito disto é inveja porque eu sou uma panela de pressão sempre sem tampa. Todos os dias tento aprender a pôr a tampa, mas o apito que deixa sair a pressão está lá. Passos decisivos em direcção ao copo de vinho, afastamento certo das lágrimas.

Tenho uma amiga que tem a melhor e mais bem usada poker face. Identifico-lhe a armadura em menos de nada. Já a conheço suficientemente bem para saber quando está tudo bem e quando não está. Nas vezes em que não tenho a certeza, pergunto.
Confio nela implicitamente, strange as it may seem.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Pepe, o carteiro

Se o carteiro Pepe vivesse numa cidade, seria no Luxemburgo. Em vez das ruas e estradas da sua pequena vila no Reino Unido, o carteiro Pepe poderia passear-se nas ruas bem alcatroadas e de passeios impecavelmente cimentados do Luxemburgo.

terça-feira, outubro 13, 2009

Crocodilos

Cheirávamos a crocodilos, mas não tínhamos os sintomas. Num carro da cor do meu computador novo, desci uma rua de aldeia e não consegui impedir que o carro descesse sozinho, mesmo depois de imobilizado e completamente travado com o travão de mão. Corri atrás dele e de repente tudo fez sentido, a paranóia crescente e palpável, a realidade sem sentido.
Preocupo-me e o inconsciente sabe. Aos bocadinhos, exorciza a preocupação e eu acordo sem ar, mas sobrevivo.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Provas para teoria

No Luxemburgo, percebo que não devo ter ar de portuguesa. Numa rua com uma mercearia portuguesa, um quarteirão com dois cafés portugueses e um supermercado em que muitas das funcionárias da caixa e ainda mais clientes são portugueses, é quase como se não estivesse num país estrangeiro.
No dito supermercado uma senhora aborda-me no corredor do papel higiénico e pergunta-me se falo francês. Respondo que sim, un petit peu. Com um sotaque cerrado, pede ajuda para encontrar um ambientador de casa-de-banho e, antes que se alongue mais na descrição, corto a conversa com um "a senhora é portuguesa?". Olha para mim com espanto e responde que sim, mas cala-se. Digo-lhe que podemos então falar em português, é mais fácil.
No avião da Luxair, o assistente de bordo português olhou para mim quando chegou a minha vez da sandocha e hesitou, sem saber em que língua me falar.
Ao aterrarmos, enquanto tirava as minhas coisas da bagageira, um casal de portugueses pediu-me, em francês, para tirar também a mala da senhora luxemburguesa com quem conversaram o voo inteiro.
Italiana?

domingo, outubro 11, 2009

Of dogs and men - a tale in three texts

"Well I can tell u one thing about Alfie compared to me. He must be feeling a bit vulnerable being away from home and pack leader and all. So he was napping on the spare bed and I say come on let's go for a stroll and bang! he's awake and ready to go. No oh wait a minute I'm asleep here, no. Just yeah right let's get it on and so here we are, two guys out for a stroll, maybe chase some cats, who knows, but, dude, he is ready. x"

"Wow. Am I, we, creeped out man. We were in near total darkness across the park when there is this huge guy just standing there. I mean just big, no sound no movement... we turn around. There's another, gotta be 7 feet tall, for real, right behind us. So there we are. Two smalish guys. Between two monsters. Totally dark. Just the four of us..."

"So. I admit it. For a minute we froze. But then we looked at each other... no words needed. We just knew. Those guys are going down. We are like ninjas, dude. A couple of fucking terminators, man (only smaller, a lot smaller in one case). Alfie spins round, goes for the guy's ankle, any higher not really likely (oh, Alf's just said enough already with the heightist remarks, sorry Alf). Me, I snap out a perfect side kick to the other guy's ribs. I think, that's it man, he is done. I own him. But no. It felt like I was kicking wood. Long story short, I was. Some clown has erected two wooden statues in the middle of a field. Art? Pah. But we woulda had them. Mind you, Alf's still getting the splinters out of his teeth. X"

sábado, outubro 10, 2009

Recado

O problema de saber que os homens não valem um caracol é que continuamos a precisar deles para nos fazerem sentir bem de vez em quando. Vivemos sem eles, claro, sem dúvida nenhuma. Mas o chocolate também faz mal (a mim faz-me borbulhas, qual adolescente) e sabe bem. Sabemos que não valem a pena e continuamos à procura deles, quadradinho a quadradinho, roubados porque sim, hoje apetece-me, é das hormonas, estou triste, qualquer desculpa serve.
Se os backlinks funcionarem, manda-me um email.
(Alice)