Era uma vez uma mulher numa aldeia perdida no meio das pedras em Trás-os-Montes, onde o frio mata e o calor derrete o chão, e as mulheres vestem preto para sempre depois de ficarem sem os maridos.
Esta mulher tinha um marido que queria testar o amor dela e por isso fingiu que tinha morrido para ver o seu desgosto.
No dia do enterro o cortejo fúnebre dirigia-se para o cemitério por um caminho cheio de árvores.
O marido, ao ver a mulher muito desgostosa a chorar ao lado do caixão, contentou-se com a prova de amor que tanto queria.
Vendo uns ramos mais baixos a que se pudesse agarrar, o marido que fingia estar morto levantou-se do caixão e anunciou a todos que tinha regressado dos mortos.
O tempo passou e chegou finalmente a hora dele. Morreu, desta vez a sério.
No dia do enterro a mulher obrigou o cortejo a seguir outro caminho para que não passassem por baixo da mesma árvore.
Fantástico! Perfeito, nem uma palavra a mais. A isto chamo eu uma escritora.
ResponderEliminarP.S. é uma das histórias da tia Alice? E se começasses uma secção de histórias dela, assim destiladas com minimalismo, pós-modernaças como esta? Prevejo possibilidades de publicação.
Esta conta foi o Marco que me disse uma vez numa das eternas noites em Castelo Branco, enquanto os adultos conversavam à mesa e nós andávamos à solta pela aldeia.
ResponderEliminarOs três do costume sentados numas escadas de uma casa abandonada, convenientemente (quase) às escuras e a falarmos em ir ao cemitério, porque não era dia das bruxas, mas o prazer de nos assustarmos voluntariamente é irresistível.
Acabámos por não ir e ficar só a contar histórias escabrosas.
É uma espécie de lenda rural daquela aldeia.
Um dia vou dedicar-me às histórias da Madrinha, tenho de lhe continuar o legado, que hoje os miúdos é mais playstation.
:)