por isso esta história passa-se no Mercedes 300 azul claro.
Nós éramos seis e viajávamos sempre de carro. Vivendo em Trás-os-Montes, as viagens eram muitas e compridas. Cinco horas até ao Porto, quase sete até Viana, nem quero saber bem quantas até ao Algarve.
As curvas de Mirandela, Murça, Fafe. Ainda fico enjoada só de falar nisso.
A banda sonora habitual nestas viagens vinham das cassetes de fado do meu Pai, excepto quando ele se punha a cantar - fado também, claro, mas às vezes também a chamada música de touradas, na brincadeira.
Como se pode imaginar, eu detestava fado. Sabia que suportava a Amália um bocadinho mais do que os outros e tinha, vá-se lá saber porquê, um afecto especial por fado de Coimbra, sim, aquele que dá imediatamente vontade de cortar os pulsos. (Sempre fui uma drama queen.)
Mas detestava fado.
E um dia, numa viagem não sei muito bem para onde, acho que sozinha com os meus pais, ouvi o "Barco Negro" cantado pela Amália. E apaixonei-me.
E continuo a não gostar de fado a não ser o cantado pela Amália e pela Cristina Branco, claro. Porque o fado é imenso e tão variável como o mar e pode ser cantado de inúmeras maneiras.
Por isso foi duplamente especial para mim quando, em Lagos, a Cristina cantou o "Barco Negro".
Na emoção do pós-concerto, eu e a IR(e)MÃ chegámos a dizer que o espírito da Amália guia a Cristina (e não tínhamos fumado nada).
Na verdade, não sei o que a guia. Só sei dizer ainda bem que a guia.
Live in Athens, 2001
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