Para o H.

Hoje, ao ir para o ginásio, dei por mim a pensar na razão pela qual decidi ter um blog. (Quando estou no ginásio propriamente dito só penso em quantos minutos me faltam para poder fazer os alongamentos e livrar-me da dor, assim é o meu estado físico.)
Há provavelmente muitas razões, mas a mais forte ou a melhor para contar aqui, é até muito simples.

Quando tinha 10 anos aconteceu de repente muita coisa na minha vida. Apaixonei-me pela primeira vez, mudei de casa e de região (de Trás-os-Montes para o Porto), saí da escola primária para entrar no ciclo (o normal, parece-me) e comecei um diário. Já não consigo lembrar-me se o pedi à minha Mãe ou se foi um presente, mas a verdade é que foi sempre ela a grande guardiã do meu novo hábito. Era ela que, mesmo encontrando o diário aberto em cima da minha cama, nunca o lia. Era ela que impedia e ralhava com os meus irmãos quando eles queriam ler os meus escritos. E, no entanto, não é por causa dela que decidi ter um blog. (Desculpa, Muttie.)
É claro que vezes houve em que o meu diário ficou sujeito às aves de rapina lá de casa (a.k.a. os meus irmãos). Infelizmente, nunca saiu incólume dessas sessões. O que dava mais gosto era saber que, tendo o pobre caderno um fecho muito simples, que eu própria abria a maior parte das vezes com a ponta da caneta, eles passavam muito tempo a tentar encontrar a chave ou a tentar "arrombá-lo". (Comportamento típico numa casa onde há quatro irmãos.)

É claro que eu ficava louca de raiva quando sabia que eles andavam a ler o meu diário às escondidas, ainda por cima fazendo disso sessões de amena cavaqueira, o que só providenciou a todos muitas horas de saudáveis discussões e algum exercício físico. A nossa vida teria sido muito mais calma e desinteressante sem estes eventos, tenho a certeza.
Uma das vezes que desconfiei que o meu diário tinha sido lido, desta feita pelo meu irmão, decidi confrontá-lo para saber a verdade. (Eu era muito self-rightgeouszinha.) Depois de negar várias vezes e de quase me convencer, o meu irmão, decerto esgotado pelo exercício de tentar enganar-me, desabafou. "Só não percebi uma coisa no teu diário: afinal gostas ou não do M.?"

Por isso, querido H., aqui o tens. O meu "diário", aberto e acessível a todos, mesmo aos que não sabem abrir um fecho com a ponta da caneta. Espero que gostes! :)