terça-feira, janeiro 18, 2011

Desarrumar para salvar a vida

Caríssimos, fiz a descoberta da minha vida. Sentada na sanita do trabalho (peço desculpa a quem possa chocar, já avisei que entrei na meia idade, agora falo destas coisas), um pensamento levou a outro e veio-me à memória o estado da minha gaveta da roupa interior (maioritariamente cuecas e meias, mas é provável que haja para lá coisas mais escabrosas), agora imaculadamente arrumada, graças a uma combinação esmerada de um longo período de caos profundamente disfuncional (eu tentei durante 4 meses e picos e não funcionava), necessidade de usar o quarto para umas coisas que agora não vêm ao caso, mas que incluem um inglês, umas caixas pretas do Ikea et voilá!, agora a minha gaveta da roupa interior vem-me à cabeça quando estou na casa-de-banho. Tudo porque é um misto. Não literal, isso era antes da arrumação, mas figurado. Muito figurado. Olho todas as manhãs para aquela gaveta e, contente que estou por tê-la arrumado, sinto-me em vertiginoso declínio. Não pelo abandono de uma vida inteira de desarrumação crónica, embora um bocadinho, sim, mas porque o raio da gaveta me faz sentir exactamente o mesmo que sentia quando passava na barragem de Bemposta e as comportas estavam abertas - a atracção da queda. Certa de que a arrumação não durará para sempre, fico feliz - se continuar arrumada muito tempo, dou em obsessiva-compulsiva.
A ansiedade que a porra da gaveta me traz não compensa uma vida a saber onde estão as minhas cuecas de cetim com padrão de leopardo e rendas cor-de-rosa. (Tê-las também não, aposto.)

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