segunda-feira, outubro 06, 2008

Portista ou Missionário

Isto de ser Benfiquista em terra de portistas tem que se lhe diga.
Para usar um eufemismo, será assim como ser palestiniano em Israel. Só que pior, porque ao menos eles com as bombas ainda matam uns quantos israelitas, agora portistas a serem dizimados às centenas era o viste-lo!
Não há terra mais violenta e agressiva em relação à sua fé desportiva do que a cidade do Porto.
Já sei, as claques violentas também existem no Benfica e no Sporting e, de vez em quando, já se sabe, há merda.
Caem varandas e rebentam explosivos de sinalização (como é que se chamavam?) em pleno estádio e partem-se carros e são, no seu geral, parvalhões com problemas de auto-controlo. Parvos há-os em todo o lado, com mais ou menos concentração per capita.
Mas no Porto não. A violência pode não ser toda de explosivos feita, mas é uma constante. Principalmente se dirigida a um Benfiquista.
O simples facto de existirmos e respirarmos, às vezes perto demais pelos vistos, irrita os portistas. E de dentro da mais civilizada pessoa, às vezes até de amigos, sai um monstro que quer, literalmente, arrancar-nos a cabeça só porque nós é mais vermelho e branco.
Não se iludam, aqui não há saudáveis e divertidas trocas de galhardetes, "porque a minha equipa é melhor que a tua", aqui há uma perseguição cerrada e doentia ao Benfiquista, como se hereges fôssemos a fugir da fogueira da Inquisição.
Eu compreendia que se debatessem os jogos entre as duas equipas, toda a gente sabe que os árbitros roubam, às vezes joga-se melhor ou pior, etc. Mas não. O portista gosta de chatear o Benfiquista em várias ocasiões, a saber.
Sempre que pode
Sempre que o porto joga
Sempre que o porto ganha
Sempre que o porto perde (esta nunca percebi)
Sempre que o Benfica joga, ganha, perde, empata ou vê anulado o jogo por desaparecimento do relvado (que eu saiba nunca aconteceu, mas eu não sou a mais informada das pessoas sobre assuntos futebolísticos)
Sempre que, no calendário, esteja assinalado um qualquer jogo do Benfica, seja a feijões, para caridade ou daqui a 15 anos
Resumindo: sempre.
Durante 10 anos tive de aturar todos os portistas à minha volta a dizerem bacoradas sobre o Benfa. Incluindo as velhotas na padaria!
Durante 10 anos pensei no que motivará tanta raiva, tanta agressão, tanto mau desportivismo.
Para já, inveja, claro. É difícil viver na sombra de um clube que é tão grande que, mesmo sem ganhar, tem tantos adeptos fervorosos.
Depois, medo. Medinho que faz os portistas correr para a casa-de-banho simplesmente por lhes ocorrer que o deles, o deles não é um grande clube. Às vezes a casa-de-banho está longe ou ocupada e cagam-se as calças, como dizia o Sérgio Godinho.
Por último, e sem querer entrar nas razões sócio-económicas e também histórico-culturais que fazem com que o Porto (a cidade) sofra irredutivelmente de complexos de inferioridade em relação ao resto do país - o que é uma pena, porque o Porto é lindo e grande e forte, mas tem o porto que faz dele bruto e sujo e tacanho -,
falta de fé.
Ora eu não sou uma pessoa religiosa e não é disso que aqui se trata, mas tenho fé em muitas coisas. Os portistas não. Passeiam-se vociferando inanidades sobre o seu clube e sobre o clube dos outros (mais esta), mas não acreditam numa única palavra que dizem.
O típico "toma lá, demos 4-0 ao Benfica na Luz" é apenas a máscara para o verdadeiro "hãn, viste, eu nem pensava que era possível nós conseguirmos chutar uma bola quanto mais marcar, mas olha, até ganhámos, nem sei como, ai, estou tão agradecido que até choro!" - e é também nesta altura que decidem correr para a casa-de-banho porque os nervos de tanto medinho dão a volta aos intestinos.
E cagam-se as calças.
O que nos traz de volta ao título. Porquê missionário?
Para começar, porque os portistas são extremamente aborrecidos e monótonos. Sempre as mesmas piadas, sempre as mesmas tretas, sempre o mesmo medinho. Caguem-se lá por outras razões, vírus de 24h, leite estragado, salmonelas, o que quiserem - agora sempre o mesmo medinho é que já chateia.
Mas missionário principalmente porque o portista é o renascido abstruso que vai pregar aos peixinhos porque se convenceu que a sua fé (que não tem) é melhor do que a tua.
Assim mesmo, como se tivéssemos todos 5 anos.
(Não se ofendam já os portistas, que eu ainda tenho mais insultos para proferir. Só mais um bocadinho, depois podem ir ver os bonecos.)
Só que o abstruso portista consegue dar uns toques de Testemunha de Jeová sempre a tocar à campainha, com um requinte de Mormon - mas sem o fato bonito, que isso é pedir demais.
O portista missionário-moderno quer evangelizar, ou melhor, portificar tudo e todos.
Não prometem a vida eterna nem 70 virgens no Éden, mas enumeram (coitadinhos, enumeram) os feitos do clube, a sua grandeza de dirigente mafioso construída, às vezes quase que contam (pelos dedos, claro) a quantidade de árbitros que o porto já conseguiu subornar. Que é, todos sabemos, infinitamente maior do que a dos outros clubes.
O que é mais engraçado nisto tudo, para além do efeito "medinho recalcado e cagam-se-as-calças", é que os portistas acabam por só fortalecer a fé e a paixão dos outros pelos seus respectivos clubes.
Quem é que, ao ouvi-los, não pensa "Que porcaria de clube, nem os adeptos gostam dele" ou "Estes tipos devem ser mesmo maus, têm de se andar a vender na rua como enciclopédias baratas"? (E sim, a palavra enciclopédias era um eufemismo.)
Ora nenhum Benfiquista faz isto. (Não sei quanto aos outros clubes, tive a sorte de nascer Benfiquista.)
O Benfiquista ama o seu clube sem precisar de explicar porquê e sem necessidade, principalmente, de explicar aos outros porquê.
É o que em inglês se chama "self-explanatory".
O Benfiquista não precisa de insultar os adeptos de outros clubes quando mostra a sua superioridade: bem lhes basta não serem do Benfica, coitados.

Notas:
1. O uso de minúscula em referência ao clube e maiúscula em referência à cidade é perfeitamente intencional e destina-se a separar a confusão que há entre a cidade do meu coração e o clube de futebol.
2. O uso de maiúscula em todas as referências ao Benfica é também perfeitamente intencional, seria aliás um erro de Português não o fazer.
3. Não há terapia no mundo que salve os portistas. Paz às suas almas.

4 comentários:

  1. Minha cara,
    Afinal que insulta e ofende é quem perde tempo a escrever tamanho texto justificativo do seu gosto pelo seu club. francamente jujuzinha!!!
    Falando em aspectos histórico-culturais tem razão, graças ao povo do norte destemido que escorraçou os mouros até marrocos hoje pode andar se burca!!!
    Falta de fé? não concordo o povo do norte não só tem fé, como tem garra dai que como o próprio Sergio Godinho, homem do norte o diz!
    Vou lhe explicar porque sei que gosta do porto mas não é o seu berço, as gentes do porto tem tanto orgulho dos seus que os defendem em qualquer parte e não é um defeito é um feitio!
    Quanto ao medinho...bláblá...vá ver o titulo de pentacampões, camp~eos europeus, dirigente ilibado...enfim não vale a pena continuar!
    Tenho orgulho em ser do porto!!!
    vê e ouve a letra com atenção!
    http://br.youtube.com/watch?v=LJ1Rye1faYs
    bjs

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  2. Minha querida,
    Vamos por partes.
    Parte 1: onde está o texto justificativo do meu gosto pelo meu clube? Não vi isso em lado nenhum, ora lê outra vez. Chegarás à conclusão que escrevi sobre o ódio cego que os portistas têm ao Benfica e Benfiquistas em geral. (Et tu, T.)
    Parte 2: Eu defendo (e defenderei sempre) a cidade do Porto.
    Não nasci cá (felizmente, porque não trocava o berço no Reino Maravilhoso por nada) mas o Porto é a minha segunda casa.
    Apesar disso, abomino esta mania dos tripeiros de acharem que o Norte é só o Porto. I beg to differ vehemently! E o Minho? E Trás-os-Montes? Não sei o que tens contra os "mouros", eu por acaso acho que a cultura árabe deixou vestígios fantásticos no nosso país, mas dizer que me orgulho disso será como presumir que andei à espadeirada ao lado do Afonso Henriques a - como é que disseste? - escorraçar os "mouros até marrocos" porque assim "hoje pode[mos] andar se[m] burca!!!". Tu pelos vistos, tens pena de não ter andado.
    Nem vou falar da confusão e intolerância cultural que é misturares Burkas com "mouros", porque me dá medo pensar que acreditas nisso. Para não falar da xenofobia que transparece das tuas palavras.
    Parte 3: "as gentes do Porto". Ai que bonito. As "gentes do Porto" estariam mais bem servidas se defendessem os seus direitos e não se deixassem sempre ficar para trás no que toca a desenvolvimento, obras acabadas em tempo útil - compare-se o caso Expo98, pronta a tempo sem ninguém neste país perceber muito bem como (talvez graças aos "mouros" que carregaram baldes de cimento e tijolos, tantas vezes sob o calor escaldante e de Burka, decerto), compare-se, dizia eu, à Casa da Música, pronta não sei quantos anos depois da Porto2001 -, e tantas outras regalias que parecem ficar todas na capital. As "gentes do Porto", julgo eu que com o seu bairrismo cego, não são simplesmente levadas a sério.
    Eu também não levava a sério ninguém que, com tantos argumentos válidos e justos, a meio de uma discussão começasse a dizer que "nós somos melhores que os mouros" e que "o Porto é o maior" - ou balelas nesse espírito.
    Parte 4: a quem não nos conhece, aproveito para informar que o comentário a que respondo vem de uma amiga minha, grande amiga aliás. Sério.
    Agora imaginem se não fosse...
    Parte 345 (e final que eu tenho de ir almoçar): nem preciso de dizer nada, basta citar-te para provares a minha teoria.
    "Quanto ao medinho...bláblá...vá ver o titulo de pentacampões, campeões europeus, dirigente ilibado...enfim não vale a pena continuar"
    Enumerar, enumerar, enumerar.
    Como diria a Fernanda Câncio,
    I state my case.
    The accusation rests.

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  3. ya...ya...ya...
    Sabes que mais?
    Bibó porto, carago!!!!!!
    E todos os mouros que pudar matar mato! uahuhauhauha....

    Ps- sim, sou tua amiga!!!!!

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  4. Lol!
    Sem argumentos, minha querida?
    Ohhhh :(
    I was having fun! :p

    P.S. Eu também, mas não sei porquê...
    :p

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