Há umas semanas que não conto nada das noites de quarta, mas isso não quer dizer que tenha parado de ir.
Na semana passada a chefe estava de férias e eu, sem saber muito bem porquê, fui nomeada cozinheira-chefe interina.
Correu tudo bem, se tivermos em conta que estive sozinha a cozinhar quase uma hora e estava a começar a pensar a quem poderia ligar para ir comigo à distribuição.
Depois chegaram as cavaleiras da Távola Redonda e conseguimos cozinhar tudo a horas.
Saímos sem jantar e sem a concha para servir a massa com coiso que fizemos.
Deleguei a condução noutra pessoa, por várias razões, mas por uma muito forte que era estar farta de conduzir a carrinha, Banco Alimentar nessa manhã e muito tempo para estacionar depois.
A coisa começou a correr mal quando uma das habituais em S. Bento nos atacou, fez uma mossa na porta da carrinha, tentou atirar com a comida e depois virou a mesa com a massa em cima dela.
Acho que nunca estive tão perto de matar alguém.
A santa padroeira dos distribuidores de comida vegetariana para sem-abrigo devia estar do nosso lado nessa noite (desconfio que não tenha muitas solicitações) e a panela caiu de pé no chão.
Servimos cerca de 140 jantares, mais ou menos contados por mim e pela condutora.
Tantos que a comida quase não chegou para o Carregal.
Como sempre, depois das panelas e do lixo, fomos para o Piolho, traumatizadas e exaustas.
Passou-nos depressa e depois só nos ríamos com a Sofia a imitar a loucura da D. Branca. A Marta também contribuiu para a nossa boa disposição, so to speak.
As noites de quarta acabam sempre da mesma maneira, é bom.
Esta semana a chefe estava de volta (ainda bem, porque aquilo custa muito e eu nunca pensei que fosse tão difícil, já lhe disse que tenho um novo respeito ainda maior por ela), fez arroz com açafrão e o mesmo coiso. Claro que o coiso era diferente, chefe é chefe.
Muito pouca gente por ser a última quarta-feira do mês, em que dão comida por trás da Câmara.
Fomos ao Aleixo, estava tudo muito calmo por causa da rusga do dia anterior.
Brincámos que eles ao menos escolhiam os dias certos para as facadas e demais confusões.
("Espera, na segunda não posso que já tenho um tiroteio noutro lado."
"Ah, na quinta não dá, é dia de facadas e impropérios no bairro da minha mulher."
"Pronto, tem de ser terça, na quarta vêm as meninas, por isso só temos terça para andar à facada entre nós. Bota lá!")
Com o carro da polícia estacionado do outro lado da rua, subdued é a palavra que eu escolheria para descrever o ambiente e humor da clientela.
Depois arrumar a carrinha com o condutor regressado das férias (deixei-o conduzir apesar dos pedidos vários que fosse eu a condutora) e depois Piolho.
Apesar do sono que tinha e da vontade de me vir embora, ainda bem que fui.
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