fomos a Viana. (Viana é Amor.)
Almoçámos com a Titi e a prima-irmã à beira-rio. (Como se fôssemos apanhar o ferry para a praia, corre, estamos atrasados.)
Chovia muito, muito, fomos a pé. (Mas a beleza da cidade estava lá, não faz mal chover porque agora tudo me lembra Viana, o sol no terraço, o calor bom do fim de dia, as pombas a cantar, as gaivotas a passar.)
Depois café no Zé Natário, tantos anos e o empregado é o mesmo. (E o homem a levar a chávena à boca já funciona outra vez, embora me tenha esquecido de olhar para ele. Noites e noites sem fim, brincar no passeio e o fascínio pelo homem que bebia chávenas e chávenas intermináveis de café. Estávamos todos, eu sei que não éramos uma família perfeita e se calhar nem sequer feliz, mas estávamos todos e com "todos" quero dizer nós os seis e eles os três.)
Depois parou de chover e fomos dar o giro obrigatório, Praça da República, descer até ao jardim (não me perguntem o nome, só sei que era bem maior quando eu era pequena e comíamos gelados nos baloiços e eu acabava sempre o gelado da prima pequena porque era sempre gelado a mais para ela, feiras do livro, corridas, algodão-doce, antes das obras o jardim não tinha fim).
Passear pela cidade quase deserta e chuvosa de um domingo de Junho podia ser deprimente, a mudança e a perda do que já foi, mas não é. (O manequim assustador que espreita da janela em frente à igreja de S. Domingos continua lá, o mistério ainda por desvendar. Eu gosto das coisas assim.)
Viana é tudo o que é bom, nos livros e nas histórias, no calor deste início de Verão, em tantos sons e músicas, para mim é sempre Viana, sempre, a imaginação troca as divisões da casa, a casa onde os meus pais viviam quando casaram e onde tiveram as minhas irmãs, a casa onde eu também praticamente cresci todos os verões da minha infância e adolescência, era nessa casa que se passava o primeiro conto que escrevi, os bonecos e brinquedos que à noite ganhavam vida, tinha onze anos e foi a pensar em Viana que me surgiu a inspiração.
Se Viana também tem coisas más? Claro que tem, muitas memórias más, muitas tristezas e muitas dores. Mas que vida ou pessoa tem só coisas boas?
Viana é tudo, mas é mais bom que mau.
Adorava ter sido eu a escrever este texto, fotografia anímica perfeita da minha cidade natal. Comoveu-me demais para traduzir por palavras, está belíssimo!
ResponderEliminarAdorei o "homem que bebia chávenas e chávenas intermináveis de café", e agora o empregado do Zé Natário vai poder finalmente reformar-se, porque está aqui retratado para sempre até ao fim do blogue, ou outra eternidade que não essa, como dizia o Ruy Belo.
Não faltam sequer o tio, as corridas para o ferry, as feiras do livro, o manequim assustador e o jardim que "não tinha fim" antes das obras (e não conheço melhor maneira de o dizer).
Lindo. E nada deprimente.