sábado, abril 08, 2006

Sábado de sol

Hoje, depois do mercado, passámos na feira de antiguidades e velharias (mais estas) da Praça de Londres.
Numa das banquinhas, cheia de salvas de prata, terrinas velhas e outras coisas feias, os panos que serviam de base às coisas expostas fizeram-me lembrar as colchas que a minha madrinha punha (põe) nas varandas e janelas, em dias de festa. Eram da mesma cor, aquele vermelho-tinto-sangue-de-Cristo-Ámen, típico de festas religiosas e liturgias que tais.

Vem lá a procissão e é preciso pelar umas flores do quintal para deitar aos andores, estender as colchas mais bonitas e os linhos mais brancos nas varandas e janelas da frente da casa, reunir a família toda, por muito que o sol nos derreta a maquilhagem, a roupa, os óculos, o tutano, para ver passar a procissão e atirar as pétalas dispostas em tabuleiros de prata e demais coisas feias.
Quando a procissão acaba de passar, com os seus andores bamboleantes, as figuras sofredoras e a povoação animada, logo se recolhem as colchas, guardadas até ao ano seguinte, até à festa seguinte.

Hoje está assim um dia de sol como muitas vezes nessas festas. Quase está tanto calor como nessas festas. E eu só consigo lembrar-me do top que tinha exactamente a mesma cor que a flor que decidi salvar da chacina, da saia preta minha favorita que afinal era igual à da vocalista do grupo (pimba) que cantou mais tarde, depois de almoçar lá em casa, juntamente com alguns membros da banda (de maestro) que tocou toda a tarde pela aldeia, servidos e atendidos por mim, de flor no cabelo. Aquele sol derretia até as pedras que não são da calçada, porque Vilarinho é de alcatrão há muitos infelizes anos.
Foi há mais de seis anos e oito quilos atrás.

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