estar sem escrever. A sério. Quanto mais o tempo passa ("mais hipóteses de desgraça") mais me custa escrever.
Chateiam-me os outros blogueiros (blogueiras, eu quase só leio mulheres) que não parecem importar-se com o blog e os seus leitores e não dizem pêva durante um ror de dias. Eu sou uma delas. Não mereço a confiança e a assiduidade dos leitores que aqui vêm, todos os dias, à procura de novas desta chungosa. (Insulto preferido da mana Pi, quase carinhoso. Gosto mais de "metes nojo aos cães", mas é muito comprido e ela cansa-se.)
A verdade é que me falta uma coisa muito importante, ou tem faltado, nos últimos tempos. E já nem falo do euromilhões. Falo da minha linda C800, que eu decidi sujeitar à lei da Gravidade. (E mais não digo, não vá a marca ler isto e recusar-me o crédito que acabou de me dar.)
Tenho, porém, algo a dizer para além de "Hoje vou buscar uma lindinha nova à loja!!".
Primeiramente, a neve. Fantástica. Já posso dizer que estava em Lisboa naquele longínquo 29 de Janeiro em que nevou por causa da vaga de frio do Norte da Europa. (Eu e mais uns milhões de portugueses.)
Confesso que saltei logo para o Norte da Europa e lembrei-me daquele nevão de Fevereiro em que, em pouco mais de duas horas, havia um metro de altura de neve à volta da minha casa. Verdade. Nevou incessantemente durante dois dias inteiros. Fez-me lembrar a minha infância em Trás-os-Montes, quando ainda dava para fechar as escolas, de tanta neve. E em vez do autocarro do infantário, éramos levados a casa num jipe da GNR, com os soldados a perguntar, botas até aos queixos, "E tu de quem és?", à falta de um mapa decente de filiação e moradas.
("- Sou da minha avó...
- E com quem vives?
- Com a minha avó...
- Mas onde vives?
- Na minha avó...
- E onde vive a tua avó?
- ..."
Eram diálogos frequentes, portanto.)
Ultimamente, tudo me lembra a Suécia. A neve, as bolachas de chocolate, os cogumelos no mercado. Não perguntem. A culpa é de um certo senhor, exilado na Finlândia (vizinho, portanto), que quase me convence a voltar para Estocolmo de cada vez que dá cá um salto. (Desconheço se este senhor tem blog, site, página pessoal ou coisa-que-o-valha. Descobrirei.)
Em novas mais numéricas (euromilhões, portanto), porque será que as pessoas, ao sugerirem números aos amigos para preencher o boletim, o fazem quase num murmúrio? Ó mulher, achas mesmo que tens a chave vencedora? (Se tiveres, parabéns. May all of your teeth rot and fall.)
Faz-me lembrar o Alexandre, pequenino, a ajudar o Pai no Totoloto, a dizer números. "Dois, quatro, cinco" e o Pai "Mais altos" e ele "DOIS, QUATRO, CINCO".
Nós preenchíamos um (dos muitos) que o meu Pai fazia no café da Estrela do Norte, depois do almoço de Sábado, acho. Talvez fosse sexta à noite.
Eu sentava-me em cima dos joelhos na cadeira ao lado do meu Pai e dizia números. Mais altos que os do Alexandre, porque eu era maior e sabia mais. E depois engolia as chicletes todas que a minha Mãe me dava, apesar dos avisos de "Não engulas, ouviste? Não te dou mais, se engolires.".
Aqui está, portanto, a vossa resposta,
minhas senhoras.