quinta-feira, novembro 17, 2005

Porto

No fim-de-semana fui ao Porto. Cheguei a Campanhã a meio da tarde de sexta, uma sexta típica da que já foi a minha cidade. Tanto quanto seja real a minha noção de típica sexta numa cidade que não habito há mais de cinco anos.
Quando chego as pessoas sabem que vim de Lisboa. Embora eu tenha vindo de Aveiro, mais propriamente de Águeda, mas não interessa. Ainda trago o cheiro de Lisboa, decerto.
Decido meter-me no autocarro para casa dos meus pais. Parece que é o 34. Se há número mais tripeiro, não conheço.
Deixar de viver lá fez mal suficiente à minha capacidade de orientação e conhecimento dos autocarros e seus destinos, não precisava que os meus pais tivessem mudado de casa duas vezes. Talvez andem a tentar despistar-me.
No caminho para o Carvalhido olho a cidade. Fernão de Magalhães, Campo 24 de Agosto, Baixa. Praça da República, Av. da Boavista, Rotunda da Boavista. Saio. Espero na Av. de França um autocarro que me leve para cima, não só porque sou preguiçosa, mas também por ter um saco bem pesado. E é a subir, não sei se já disse.
Chego a casa. Não reconheço a rua como minha. Não é. Não é a outra, a de cima, que ficava em baixo (e a de baixo ficava em cima). Uma rua tão minha que durante seis anos não precisei de conhecer outra para estudar, a escola tão perto que se mais perto fora, seria dentro da minha casa.
No caminho namorei-o. Ao de leve, de soslaio, pela janela do autocarro onde uma menina anuncia as paragens com a pronúncia docemente tripeira que noto à légua, desde que transitei para latitudes mais sulistas.
Ele, por despeito, não me ligou. Não me viu, não me notou, não me acolheu. É o costume. Uma espécie de jogo do gato e do rato de que ambos gostamos.
No sábado espreitei-o outra vez, da minha perspectiva preferida. Desta demorei-me no olhar, como que a dizer-lhe estou aqui, estou a ver-te.
As luzes da beira-rio, da ponte da marginal, da cidade que se vê ao vir de Gaia.
Ele fez que não me viu e eu senti o coração cheio de quem reconhece onde está, de quem se reconhece.
Ele, o Porto, continua a fazer parte de mim, por mais voltas que dêem os pais pássaros e o seu ninho, por mais anos que passem, por mais transportes novos que se construam. Uma paixão que não tem fim, própria de quem está afastada o suficiente para ver só as coisas boas.
Desta vez não comi uma francesinha, mas deliciei-me com um croissant bem fofo, quentinho, como só no Porto há.

Sem comentários:

Enviar um comentário