Hoje foi o meu último dia. Correcção, o meu último-último dia, que já não é a primeira vez, tanto é que um colega de quem gosto muito me mandou um email quando soube, “you did it again??”. Fez-me rir, como sempre.
O último-último dia foi estranho. Por um lado, a bizarraria de ter preparado tudo com antecedência, tanta que deu para rever, mudar, editar, aperfeiçoar. Tanta que hoje só tinha quatro coisas para fazer e uma delas era entregar o material.
Deixei o chefe, que já foi chefinho e a luz dos meus olhos profissionais e agora é só o chefe com quem tenho uma história longa e com quem consegui esclarecer as coisas e partir de boa relação, com tudo arrumado, até ele ficou parvo com os metros cúbicos de espaço que tem agora no novo sítio. Só não consigo ser tão rápida e decisiva em casa, mas isso são outros trabalhos. Não é difícil arrumar quando 85% vai para destruir.
Bela palavra, destruir. Estes dois dias andei no escritório com lentes cor de rosa nos óculos que não uso, passei em partes do edifício que me deixaram nostálgica e soube que ia ter saudades (mainly das pessoas), mas também veio o medo. É a última vez. Da primeira não sabia que ia querer voltar (raio de antro onde me fui enfiar, aprendi finalmente a lição), mas desta sei que não posso - e não quero. Desta vez saio porque já não podia mais e, apesar disso, saio sem amargo de boca. Porque já o resolvi (acho).
Saio porque vou para outro sítio onde senti o que se deve sentir, isto é bom, a nova chefe lembra-me a minha primeira cá, é um ano mas pode ser mais. E depois de um ano, é mais fácil mudar de vida ou não. Logo se verá.
Medo de fechar a porta, medo de me arrepender, saí a pensar se teria mesmo feito tudo, se teria mesmo deixado tudo. Medo de ter destruído algo que não volto a recuperar.
Normal. Ainda digo “no meu trabalho”, mas foi só há umas horas. Isto entretanto passa. “Andou estúpido, mas depois passou-lhe.”